A consolidação da banda sinfônica como um corpo sonoro concertista e os 100 anos da Semana de Arte Moderna abriram a temporada
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Rodrigo Rossi
Após um ano sem apresentações ao público e de casa cheia, a Orquestra Municipal de Sopros fez neste domingo (10/04) a primeira apresentação do ano, no Teatro Municipal Pedro Parenti, na Casa da Cultura. Em fevereiro, a orquestra havia se apresentado nos desfiles da Festa Da Uva.
A vice-prefeita Paula Ioris saudou o público presente para a primeira apresentação do ano e agradeceu a presença de todos, destacando a importância do espetáculo. “É uma alegria muito grande receber vocês aqui. É tão bom poder retomar a vida aos pouquinhos e juntos podermos conviver. A arte e a cultura são alimentos tão importantes para a nossa alma e nada melhor do que alimentar a alma com música boa”, comentou.
Para o ano, a Orquestra Municipal de Sopros pretende fazer apresentações regulares para que o público se acostume a assisti-lá. “Estamos desenvolvendo para 2022 um projeto com músicas gauchescas, em que cada apresentação queremos ter um convidado diferente para entoar as canções do Rio Grande do Sul, na companhia dos instrumentos de sopro”, comentou o maestro Gilberto Salvagni.
O maestro selecionou temas de filmes, músicas brasileiras e peças originais para formação de banda sinfônica para a primeira apresentação do ano, com temática alusiva aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. “A Semana da Arte Moderna teve como proposta apresentar uma nova estética para todas as artes, além de iniciar o movimento modernista brasileiro, inspirado nas vanguardas europeias. Hoje apresentamos um resumo da música durante o movimento, com composições americanas, japonesas, italianas e brasileiras, incluindo temas do folclore gauchesco”, comentou.
A primeira parte da abertura da temporada teve peças adaptadas para a orquestra. Foram canções de compositores japoneses, americanos e italianos, como Machu Picchu – City in the Sky de Satoshi Yagisawa (Japão), que faz uma descrição sonora da enigmática cidade da civilização inca. A capacidade de transformar um ambiente e uma história em música é o grande destaque desta composição.
Outra peça executada foi Shadow Rituals, de Michael Markowsky, composição complexa e exuberante, que venceu o primeiro concurso Frank Ticheli de composição enquanto seu compositor tinha apenas 20 anos de idade. Markowski a descreve como rítmica, energética e desafia o intérprete a estar constantemente engajado na música.
Encerrando a primeira parte da abertura, que introduziu para o concerto em homenagem a Semana de Arte Moderna, a orquestra executou Symphonic Suite from Star Trek, de Michael Giacchino, com arranjo de Jay Bocook, obra adaptada para banda sinfônica. A música segue à risca a estética da trilha sonora de filme de ficção científica em cenário espacial. O compositor presta uma homenagem aos temas compostos 50 anos antes por Alexander Courage. Durante a apresentação, o maestro ensinou o público sobre a diferença entre consonância e dissonância e as relações entre as notas musicais mais confortáveis e menos confortáveis, a chamada acidez sonora, que se fez uso na música durante a semana de 1922, com a vanguarda e a desconstrução da estética.
Alusivo ao movimento, a orquestra apresentou Heitor Villa-Lobos como amostra do que foi a Semana de Arte Moderna. Dentre as músicas selecionadas, O Trenzinho Caipira de 1930, em que o compositor apresenta os sons do ruído do trem, partindo, viajando e chegando. Principal representante da música na Semana de 22, Villa-Lobos conviveu com os chorões (compositores e músicos do choro) e, desde jovem, percorreu o Brasil para absorver e coletar material folclórico que seria uma das fontes de seu estilo maduro. Na série Bachianas Brasileira, Villa-Lobos buscou uma síntese entre as matrizes musicais brasileiras e a estética de J. S. Bach.
Outro arranjo apresentado ao público foi Odeon, de Ernesto Nazareth, composição genuinamente brasileira. O caráter satírico, malandro, por vezes cômico da melodia se soma à tradição europeia de contrapondo que ajudou Nazareth a criar o tango brasileiro.
O DNA da música brasileira foi apresentado pela composição Suíte Nordestina, de José Ursicino da Silva (Mestre Duda), no qual se inicia a estética de criar arte com a música brasileira, trazendo o folclore para a música erudita. A composição mostra em seus movimentos (baião, maracatu e frevo) os ritmos que melhor representam o nordeste brasileiro.
A apresentação permeou também pelo folclore gauchesco e contou com a participação do acordeonista Rafael De Boni, que, acompanhado da orquestra, entoou Barra do Ribeiro, de Guinha Ramires, com arranjo de Gilberto Salvagni. A música representa a cultura regional através da milonga portenha, ritmo que faz parte do tradicionalismo e remete aos ares do campo. O solo de acordeon de Rafael De Boni promoveu o encontro da sonoridade da banda sinfônica com o regionalismo gaúcho, como que sintetizando o concerto.
A apresentação encerrou com a clássica Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. O público, empolgado com a apresentação que encantou a todos, pediu bis duas vezes e a orquestra retornou ao palco para mais duas apresentações.
Jornalista
Eunice Ebertz
MTE 19958