O Brasil vive um novo ciclo de investimentos estrangeiros — e, dessa vez, a locomotiva é vermelha. Grandes corporações da China estão investindo mais de R$ 27 bilhões em território nacional, com promessas de mais de 100 mil empregos e transformação da matriz energética e industrial. A chegada massiva de empresas como BYD, Meituan, CGN, Longsys e Mixue cria novas oportunidades, mas também acende o sinal de alerta entre especialistas e parceiros históricos, como os Estados Unidos.
Os benefícios que o Brasil já sente
Como mostramos, os investimentos abrangem setores estratégicos:
- Mobilidade elétrica: GWM e BYD apostam alto em veículos sustentáveis.
- Energia limpa: CGN, SPIC e CTG expandem a matriz com eólicas, solares e hidrelétricas.
- Delivery e varejo: Meituan traz nova dinâmica para o mercado de apps de entrega.
- Indústria tecnológica: Longsys traz fábricas de chips para o país, reduzindo dependência externa.
- Alimentos e franquias: Mixue inicia operação com expectativa de 25 mil empregos.
Os riscos que não podemos ignorar
Apesar do avanço positivo, há riscos importantes para a soberania e a diplomacia brasileira: Pressão dos EUA
Os Estados Unidos acompanham com cautela a aproximação econômica entre Brasil e China. Como principal parceiro comercial e político do Ocidente, os EUA podem:
- Restringir repasses de tecnologia ou financiamento ao Brasil em áreas sensíveis como semicondutores, IA e defesa.
- Reduzir apoio em fóruns internacionais, como FMI e OMC, se entenderem que o Brasil está “cedendo demais” à influência chinesa.
- Exercer pressão diplomática ou comercial, como já ocorreu em outros países que estreitaram laços com Pequim (ex: Austrália, Filipinas, Equador).
Dependência tecnológica
- Muitas das indústrias que chegam são montadoras, ou seja, o Brasil ainda não detém o domínio da tecnologia. O risco é nos tornarmos apenas uma linha de montagem sem avanço real em pesquisa e inovação.
- A China raramente transfere conhecimento tecnológico integral. Isso pode travar o desenvolvimento de setores-chave no médio prazo.
Concorrência com empresas brasileiras
- Aplicativos como Keeta (Meituan) e 99 (DiDi) disputam espaço com empresas nacionais, com risco de esmagar concorrentes locais.
- Pequenos negócios, como restaurantes e comércios, podem ser pressionados a entrar em grandes plataformas sob condições desfavoráveis.
Questões trabalhistas e ambientais
- Denúncias de más condições de trabalho já atingiram empresas como BYD. Em 2025, o Ministério do Trabalho teve que resgatar trabalhadores em situação análoga à escravidão em canteiros de obra da montadora.
- Projetos energéticos em áreas sensíveis — como parques eólicos próximos a comunidades tradicionais — também exigem cuidado.
Brasil entre dois gigantes
Com a guerra comercial entre China e EUA em alta, o Brasil precisa agir com equilíbrio estratégico. O ideal é manter relações saudáveis com ambos, negociando com firmeza:
Aproveitar a entrada de capital chinês para gerar empregos e impulsionar setores estratégicos.
Sem abrir mão da soberania tecnológica, trabalhista e ambiental.
Estabelecendo contrapartidas reais: transferência de tecnologia, formação de mão de obra local, respeito à legislação nacional e investimento em inovação.
Conclusão
A China está cada vez mais presente no Brasil — com bilhões de reais, fábricas, apps, energia e influência. O impacto pode ser altamente positivo, desde que o país saiba negociar com inteligência e proteger seus interesses de longo prazo. Sem isso, o Brasil corre o risco de repetir erros do passado: crescer sem se desenvolver.

Lairton Fonseca
MTE 19799